a conversa de bar, a conversa de coração.

- Eu sei do que você esta falando. - disse a ela, enquanto ela continuava a chorar em cima da bebida. Havia mais lágrimas do que alcool ali.- Eu também já amei.Uma vez, mas amei. - ela voltou o olhar inundado a mim, como se não esperasse aquilo de mim. - Sim, eu amei. Acho que ainda amo, afinal, amor é amor, e coisa assim, minha filha a gente nunca esquece.- era estranho tudo aquilo, ela ali, cinco anos mais nova do que eu, sofrendo por amor, sofrendo comigo, um velho amigo, gay, um gay mal resolvido consigo. Acho que ela não podia estar pior, mas ainda sim continuei, insisti em contar a ela sobre o meu amor.
- Eu a conheci no colégio. - ela me olhou assustada e eu já sabia, até eu me assustava com aquilo. - Sim, ela. Eu amo uma garota, mas gosto de homens. E talvez ela tenha a ver com isso, você vai entender, espera que vai. - ela abaixou a cabeça e soluçava baixo, talvez para me ouvir ou talvez já estivesse mais calma.- Continuando, eu  conheci no colégio, e era linda. Não, não linda, linda linda. Mas pra mim era linda. Sabe, assim quando você encontra alguém e essa pessoa tem alguma coisa que atrai você, uma coisa que você não sabe o que é, não tá no sorriso, no olhar, no corpo, no cabelo, talvez no jeito, mas também acho que não. Só sei que estava ali, que estava nela. E eu não acreditava nessa coisa de amor sabe, acho que isso, que tudo, envolve mais. É coisa demais, é vida gente. Daí, eu me aproximei dela, eu sabia que não devia, não gostava daquilo, não queria, eu nunca quis uma garota, mas eu a quis, com todo meu corpo, com tudo, como um todo. Eu não gostava daquilo, não gostava de garotas, não gosto, mas gostava dela, e também não gostava de gostar dela, de querer ela. Mas queria, eu quis, e quero. Sempre foi difícil pra mim falar nisso, por isso você, ninguém, ou quase ninguém sabe. Mas ah, continuando. Tentei me aproximar dela, ficamos amigos, faziamos trabalhos da escola junto, eu queria estar sempre com ela, e fazia de tudo pra isso, eu fiquei idiota por causa dela, você tinha que ver o que eu fazia, eu ia mais cedo pra escola, almoçava na casa dela, eu estava com ela enquanto podia, parecia uma criança, de 16 anos, mas uma criança; e ela também. Daí com muito tempo, criei coragem, pedi ela em namoro. Nós namoramos uns três anos, eramos muito felizes, então ela passou na universidade, disse que me amava e que ia continuar comigo. Ela vinha todo fim de semana, até que ela parou de vir, e não me respondia mais. Decidi ir atrás dela, fui na casa dos pais dela, não quiseram me atender, pedi a uma amiga, e ela conseguiu o endereço, cheguei lá, ela tava casada. Do nada, de repente. Foi demais, me destruiu. - senti toda aquela dor dando sinais de vida em mim - E foi isso, e foi assim que amei, e é assim que amo. E acho estranho como a gente confia tudo que tem a alguém, a tôa.
Olhei pra ela, e ela estava sentada ao meu lado, me entregando sua bebida, me consolando. E me perguntei como foi que eu fui parar ali, sendo consolado, enquanto devia consolar, mas logo entendi, eu nunca tive talento pra isso.

Um comentário:

  1. Ain que bom... Fico feliz!
    Volte sempre que quiser, viu?
    Beijokas =*

    ResponderExcluir

Obg! pela visita :)
volte sempre ♥