Embarque para Londres, 2 de Agosto, 9h

- Eu imagino meus próximos dias, eu imagino o dia do embarque, e as lágrimas, e todos meus familiares tentando conter uma tristeza incondicional em me ver partir ainda que para meu bem. E eu também te vejo nesse monte, tentando conter um choro que transborda em você. Eu vejo da janela do avião você, me olhando lá de baixo, em meio as suas lágrimas encostado no seu velho carro novo. Pensando em como vai ser difícil passar os próximos cinco anos sem me ver todos os dias. Você, se programando, 'enfiar a cara nos livros', terminar logo e bem a universidade e preparar tudo para quando eu estiver de volta.
- E se você consegue ver tudo isso, eu não sei como não consegue ver o que realmente vai acontecer.
- E o que você acha que vai acontecer, quando eu for para Londres?
- Sinceramente?
- Claro. - ela olhou com o brilho intenso da conversa nos olhos dele, e sorriu.
- Eu vejo o dia em que você for me contar, que já tem data marcada, passagem comprada. Eu vejo o jeito como vou sair do seu apartamento e entrar chorando no meu velho carro novo e tocar para um bar, e lá, beber até achar um jeito de me conter e ainda conseguir te apoiar na vida que você escolheu e tem mérito para levar, ainda que a não sei quantos mil quilômetros longe de mim - mesmo louco para voltar ao seu apartamento, te acordar as quatro da manhã e discutir até te perder, ou milagrosamente te fazer ficar. Eu sei que vou convidá-la para ir ao shopping para que você troque certas peças do seu armário para o frio europeu, sei que isso vai doer em mim de uma maneira incomensurável, mas eu vou sorrir para ver você sorrindo. Eu vejo, que vou me embreagar - levemente para que você não perceba - até conseguir achar um jeito de guardar a dor em algum lugar que eu não encontre todas as noites. Eu vou levar você até o aeroporto, carregando suas malas e fazer o que você mesma disse. Mas, tenho certeza de que vou continuar sofrendo, a cada noite. Porque não há em mim um lugar no qual você não esteja.