" acho que ninguém leva tanto tempo para notar alguém que esta na sua frente em uma fila que se arrasta durante uma hora no saguão de um aeroporto, mas eu levei, e só o notei quando ouvi a voz firme e limpa que falava tranquilamente - em meio ao caos pelos atrasos - com a senhorita do guichê. Ele não tinha sotaque, não algo específico que eu tenha reconhecido logo, era estranho. O que me despertou no rapaz da frente, é que todos ali já estavam irritados, e era compreensível, já deveriamos estar em Londres mas ainda aguardávamos no saguão sem ao menos saber quando embarcaríamos, mas ele não. Ele conservava uma paz, que eu não tive nem ao menos quando me levantei naquela manhã, feliz por estar indo para um emprego que desejei por muito tempo.
A senhorita do guichê o recebeu já sem o sorriso no rosto e sendo curta nas respostas, já estava cansada de tantas grosserias, mas ao se surpreender com ele, sorriu, talvez reanimada, e ele retribuiu, era gentil. Ela lhe deu umas duas ou três respostas e ele se dirigiu a uma das cadeiras ao canto, sentou-se, pôs sobre o colo a mala pequena, ajeitou o boné com patrocínios que eu só reconhecia por vez ou outra - na falta do que fazer - ter assistido a fórmula 1. Ele tinha um jeito calmo, encantador, e o jeito de falar, que podia frear suas emoções, como se de algum jeito, ele ajudasse a senhorita a coordenar os pensamentos, a retomar seu controle e seguir firme e segura em suas explicações.
Segui em direção a ela no guichê, e ela retomou o sorriso de uma hora antes, eu repassei a ela o necessário, e ela transferiu meu voo, eu partiria em quinze minutos. Ao ouvi-la fechar meu tempo ali, pensei se conseguiria alguma aproximação com ele, e a senhorita digitava ritmada meus documentos, ela terminou e me devolveu todos os papéis, seus olhos tinham um brilho novo, um encantamento, talvez por descobrir que mesmo em um aeroporto lotado, voos cancelados e atrasados, existia alguém educado o bastante para fazê-la sentir-se bem. Voltei a olhar o lugar onde ele estava sentado, e já estava vazio, tudo que havia sobre era o boné, corri até ele, sobre o boné, um papel dobrado um tanto amassado. Uma flor, desenhada a lápis e um número de telefone.
Não me interessava se era só um conquistador, ele era encantador. '

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