Uma noite.

Ele me olhava, já contente pela bebida, e talvez por ela também, deixasse tudo mais a mostra, estava transparente, e eu sentia no ar o amor que ele emanava. O álcool no sangue dele me ajudou, assim ele não percebera meu olhar de desejo, e era incapaz de perceber a vontade que arrepiava cada centímetro da minha pele, ou talvez, ele apenas disfarçasse.
O espaço do quarto diminuía, a poltrona dele ao lado da estante, onde a taça de vinho repousava, de frente pra cama, de frente pra mim, que permanecia ali sentada, pensando, nos pés da cama.
Tirei a sandália, deixei do lado, levantei, fui até ele, com o mesmo olhar, e quanto mais perto eu chegava, pior eu pensava, mais em mim, eu pecava.
Ele abriu um sorriso de anjo, eu me sentei na beirada da coxa, quase no joelho. E continuei olhando, e ele me olhava de volta, e sorria cada vez mais forte, cada vez mais bonito. Sorri de volta, mas não minto, o sorriso era mais pra mim, pros meus pensamentos. Aproximei o rosto, a boca, sorri perto dele, ele quis juntar os sorrisos, as bocas, as línguas, desviei. Queria juntar meus lábios, em formas sutis no pescoço dele. Ataquei. Senti o corpo dele estremecer sob meu toque, e suas mãos me puxarem pra mais perto, buscarem o melhor jeito de me encaixar. O pescoço, a orelha, a bochecha, a boca. Vi seus olhos se revirarem. E isso não me freava, acelerava. E eu ia devagar, tirando a camisa dele. Descendo pela abertura que eu fazia no tecido beijando seu corpo. Ele já estava sem camisa, e meu quadril encaixado no dele. Ele me beijava, e levava de um lado pro outro meus cabelos, desabotoava meu vestido. Estavamos prontos. Loucos, um pelo outro, pelo momento, pela vontade.
Dali pra frente, não me lembro bem, não assim, pra descrever, pra escrever. Senti a boca dele descendo por mim e meu corpo vibrando aos toques gentis, meus olhos mostravam minha inconsciência excitada, minha boca clamava pela boca dele. Senti suas mãos, nas minhas coxas, nas minhas costas, me agarrando pela nuca, mudando de lugar meu cabelo. Foi perfeito.
Acordei, envolta em lençóis, e senti, só uma felicidade, de ponta a ponta do meu corpo. Meus cabelos jogados no travesseiro, ele deitado ao meu lado, as costas recentemente arranhadas, o pescoço marcado. Eu tinha passado por ali. Dei um beijo de leve na bochecha dele enquanto me levantava arrastando lençóis pra tomar um banho. Me assustei com o puxão pela cintura e o beijo forte na boca, olhei naqueles olhos, pronta pra dizer algo sobre isso, mais fui pega de surpresa pela mesma maré que tomara o quarto na noite passada. A transparência da alma dele e o amor que ia a toda parte. O sorriso sincero. E meu coração que se abria, deixando a mostra todo meu amor. Na minha cabeça, renascia o desejo, renascia o pecado.

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