Parte 8


Ele tinha razão, era demais pra mim e seria para qualquer outra pessoa, mas eu havia chegado a um ponto onde não havia mais a oportunidade de parar, voltar a trás e fingir que não acontecera nada, que não me importava quem ele era, ou como me conhecia, até porque isso seria uma enorme mentira porque, essa curiosidade me movera até ali, me colocara em perigo, era hora de ir até o fim.
- Creio que isso signifique que sim, - ele sorriu – bem então deixe eu pensar, sua primeira pergunta foi o que havia acontecido, certo?
Pisquei novamente, mais rápido, ainda mais ansiosa pelo que ele diria.
- Um assalto.
Ele não sorria, o rosto sério fitava a escuridão através da janela do quarto. Tentei mover os dedos, como se meu toque pudesse aliviar a dor que era tão clara. Quando meus dedos finalmente obedeceram, tocando o dorso de sua mão ele me olhou.
- Obrigado. Eles levaram algo precioso para mim que talvez eu nunca possa reaver, mas vou ficar bem. – ele sorriu e com certeza notou que a curiosidade permanecia – Prefiro não falar mais sobre isso, tudo bem? Me incomoda muito.
Pisquei rapidamente para que ele não remoesse os sentimentos ruins que coisas assim com certeza causam nas pessoas, nunca fui do tipo urubu que queria descrições completas sobre coisas que traziam tristeza a alguém. Acho que sentimentos ruins não são para se entender, mas para se compreender quando você se importa com quem os possui, e eu estranhamente me importava com ele.
- Meu nome é Ian, eu cheguei faz pouco tempo mas estive na Editora que você trabalha, sou escritor, ok, eu quero ser, e perguntei a uma secretária quem você era, e ela me disse mais do que eu precisava saber. – ele riu.
De alguma forma eu não esperava ouvir aquilo, imaginei por um momento que ele estava me perseguindo, por uma publicação e talvez fosse isso que eles tivessem levado, seus manuscritos. Mas de repente, senti que devia confiar, podia e queria. Quis acreditar e não temer mais, mesmo que isso fosse idiota e perigoso. O medo voltou a percorrer minha mente e minha imaginação disparou pelas mais terríveis histórias que eu vira nos jornais, mas me lembrei que não podia deixar meu medo me impedir de jogar, de tentar.

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