Parte 5

Peguei um táxi até a área das casas, o motorista estranhou que eu fosse ficar por lá, já que pela hora, somente uma ou duas luzes se podia ver nas casas.
- A senhora quer que eu a espere entrar em casa? – ele perguntou ao me entregar o troco.
- Não, tudo bem, eu só preciso verificar algumas coisas por aqui, - sorri, tentando calar o medo que ficava mais forte – você tem um cartão, caso eu precise?
Ele me entregou um cartão e eu o fitei, esperando que caso alguma coisa acontecesse ele se lembrasse do meu rosto. Tomara que isso não fosse preciso.
Quando desci e ele não demorou um momento, manobrou e em minutos desapareceu no caminho de volta a civilização. E ele estava certo.
Inspirei o ar frio da noite, a maresia era constante, sabia que alguma coisa teria que cessar, minha curiosidade ou meu medo, eu teria que lidar com um desses sentimentos.
Segui em direção a ponte, caminhando devagar e com cuidado para não fazer um barulho sequer. A polícia não tinha muitos problemas naquela parte da cidade mas sempre destacava o quanto era importante evita-la, mesmo durante o dia, principalmente pelo deserto que o local se tornou após a mudança para as instalações do novo porto. Mas eu me lembro desse lugar desde pequena e por isso resolvi caminhar por aqui, invés de dar voltas e mais voltas no parque e nas minhas caminhadas eu pensava. “Você está caminhando em mais um incrível fim de tarde, ok, está bem mais escuro, mas você está segura” eu repetia baixinho tentando me tranqüilizava.
Não havia nada na ponte, nem sinal de alguém e as luzes amarelas pareciam iluminar cada vez menos, voltei a pensar na loucura que eu estava fazendo então me lembrei de vê-lo correr entre os barcos, fiz o caminho de volta, desci na beira da praia, meus pés afundando na areia molhada, aumentando o ritmo até chegar aos velhos barcos, alguns pequenos outros até de porte mediano mas a maioria estava atracada há tanto tempo que o que se via era ferrugem. Desviei de algumas pontas enferrujadas que poderiam muito bem ter tirado um pedaço de mim e imaginei como ele passou por esse lugar com tanta facilidade.
No meio das embarcações quase tudo era breu, a fraca luz que vinha da zona mais habitada ia desaparecendo quando eu ia avançando e eu sentia meu corpo tremer, eu não conseguia pensar em nada, só respirava alto e forte. Me obriguei a parar quando eu já não via nada na minha frente e retornar, não havia nada ali, ninguém.
Fiz o caminho de volta com mais pressa, sabendo melhor do que desviar, onde pisar. Já não estava com tanto medo, estava com raiva, me sentindo idiota por ter me arriscado por nada. Subi a praia suja até a ponte e quando subi a escada de madeira velha, a única parte que parece não ter sido trocada na reforma um dos degraus pareceu se partir sob meu pé. Me segurei para conseguir subir, e fui até a rua.
Talvez eu corresse mais risco sozinha do que mal acompanhada, quase me machuquei nos barcos, quase caí da escada mas estava inteira, ia para casa anular aquele dia. Parar de buscar resposta.
Procurei no bolso do casaco pelo telefone do taxista, peguei meu celular mas quando ia discar senti que a luz a minha frente sumiu, fora substituída pela sombra dele.
- O que está fazendo aqui?
O mesmo homem que eu ‘salvara’ a tarde, parado na minha frente como se estivéssemos em um encontro casual. Meu coração acelerou de tal forma que suas batidas estavam mais altas que o balançar do mar.
- Está tudo bem com você? – ele perguntou olhando melhor para meu rosto.
- Sim. – tentei falar, a voz presa parecia um pigarro.
- Deveria ir para casa, você mora aqui perto?
- O que aconteceu hoje? Quem é você? Como sabe meu nome? – consegui soltar as perguntas que pularam primeiro em minha cabeça agitada.
- Você precisa de um táxi? – ele sorriu e tirou um celular do bolso, discou um número e voltou a me encarar com seu sorriso casual. – Bem, ele já está a caminho.
- Não vou sair daqui enquanto não me responder. Quem é você, como sabe meu nome? – Tentei parecer o mais firme possível, respirando devagar para me acalmar.
- Tudo bem, vou responder o que quiser assim que entrar no carro ok, senhorita?
Troquei o peso do corpo para outra perna, como quem está impaciente, tentando ser convincente.
- Pode começar a falar, você tem tempo até... – antes que eu terminasse, o taxi já estava lá.
- O que vai demorar? – ele sorriu, abrindo a porta para mim – Por favor.
- Só depois de você, entre.
Ele riu, cumprimentou o motorista, o mesmo que me trouxe até o porto, para o qual eu ligaria minutos antes. Ele entrou no carro e eu o observei por um minuto, então entrei.
O táxi manobrou e seguiu o caminho para a cidade.

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